O setor de agropecuária brasileiro projeta grandes números na colheita de soja nesta safra 2022/2023, o que não acontece no Rio Grande do Sul devido a estiagem, que impacta os 39 municípios da região.
A colheita de soja na região já está finalizada e sua produção foi 50% menor do que o esperado. O arroz também já foi finalizado e mostra resultados na média esperada. O valor recebido pelos agricultores ao vender a produção também causa descontentamento e afeta a safra 2023/2024, a qual começa a ser planejada nos próximos meses.
Estes são os dados divulgados na última quinta-feira (1º), pelo informativo conjuntural do Escritório Regional da Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural e Ascar – Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural (Emater/ RS).
Safra recorde de soja no Brasil, mas no Estado o resultado é outro
Na última quinta-feira (1º), o Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística (IBGE) divulgou o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2023. A partir dele, é possível ver a situação da atividade econômica de uma região: no período indicado, o PIB cresceu 1,9% em relação ao trimestre anterior, na série com ajuste sazonal. Frente ao mesmo trimestre de 2022, o PIB cresceu 4,0%.
Conforme Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais, o PIB cresceu mais impulsionado pelo crescimento de 21,6% da agropecuária, particularmente, pela expectativa recorde de safras de soja com crescimento de cerca de 25% na quantidade produzida e gancho produtividade. Na descrição de Palis, a soja neste trimestre representa 70% do total da lavoura neste primeiro trimestre.
Ao tempo que o cenário é positivo para o resto do Brasil, no Rio Grande do Sul o cenário é de uma produção 50% menor que a expectativa para o estado.
Confira os detalhes das três principais culturas de produção a partir dos dados do relatório da Emater/ RS - Ascar de Santa Maria, do período entre 23 a 29 de maio deste ano:
Soja
A área de soja plantada na região ultrapassou um milhão de hectares. A expectativa inicial de rendimento que era de 50,13 sacas por hectare, aponta uma redução de 50%, com produtividade média de 24,9 sacas por hectare. Ainda conforme a Emater, o preço da saca de soja apresentou leve aumento.
Arroz
Com a colheita do arroz na região de Santa Maria finalizada, a Emater indicou que a produtividade média constatada foi de pouco mais de 146,7 sacas por hectare, quando a expectativa era de 153 sacas por hectare, uma quebra de 4,1% na produção. A área plantada foi de um pouco mais de 117 mil hectares. Nas semanas analisadas, o preço da saca do arroz vinha mostrando queda, situação prejudicial ao agricultor.
Milho
Conforme a Emater, já foram colhidas 90% das áreas plantadas na região central, desta quantia houve perda em torno de 56%. A expectativa inicial de rendimento era de 83,5 sacas por hectare, mas a produtividade alcançada no momento está em torno de 36,9 sacas por hectare. Novamente, o médio da saca do milho teve uma leva queda.
“A agricultura é assumir riscos”, afirma presidente da Cotrisel
Os dados oficiais sobre a produtividade da região central não agradam quem os leem, muito menos quem os vivencia. A situação é desanimadora para o agricultor, que teve um custo alto para o plantio, enfrentou problemas pela estiagem e, agora, vende seu produto por um preço abaixo dos anos anteriores.
No fim, há um desconforto generalizado do produtor e da indústria. Na avaliação de Guilherme Passamani, gerente regional da Emater/RS Santa Maria, o cenário só será positivo quando houver um ano sem estiagem:
– Ainda que estejamos trabalhando em várias frentes junto ao governo do estado para auxiliar os agricultores, precisamos investir em tecnologia para incrementar o nosso sistema de irrigação, ele ainda é incipiente. Também precisamos trabalhar nossas estruturas de armazenamento de grãos.
Para José Paulo Salerno, presidente da Cooperativa Tritícola Sepeense (Cotrisel), um novo cenário para a agricultura não é um caminho fácil:
– Agricultura é assumir riscos. Nosso problema é não ter colhido 60 sacas. Acredito que neste ano, pelo cenário, vai aumentar o número de agricultores que vão parar e vão acabar arrendando para terceiros (alugando a terra para a plantio). Uma quantidade muito maior do que os anos anterior – esclarece Salerno.
O resultado da safra pode levar a desistência
Na última quarta-feira (31), a reportagem ouviu agricultores do município de Arroio Grande, em que maioria já fez a colheita cultivada. Os valores dos insumos em 2022 foi um dos pontos mais citados quando o assunto foi a safra atual.
Altair Millani, 34 anos, agricultor familiar, gere os negócios da família com o irmão; plantam arroz, soja, milho nos seus 20 hectares. Na sua visão, a perda não foi tão grande, como a de outros conhecidos, pois escolheu uma área maior para plantar soja, cultivo que se desenvolve ainda que tenha um menor número de água. Mas no fim das contas, aquele preço pago no adubo e defensivo agrícola, por exemplo, ainda é desgosto da produção.
Outro ponto que contribuiu para a produção de Millani é a chuva ter vindo no momento em que o grão da soja precisava de mais quantidade para se desenvolver; no seu caso, isto foi no fim de fevereiro e início de março. No final, colheu 62 sacas por hectare, quantidade menor de 2022, que foi 68 sacas.
– Depois que eu paguei a colheita (2022/2023), me restou R$ 40 mil para comprar os insumos para a próxima safra e sobreviver até a safra que vem. Colhi bem e vai sobrar pouco, imagina quem colheu mal – afirma.
Oldomar Calduro, 50 anos, agricultor familiar, plantou um hectare de arroz e 50 de soja, sabendo que ia faltar água. Na área baixa, Calduro chegou a colher 60 sacas por hectare, e de arroz deu 150 sacas.
– Todos aguardavam que a soja fosse comercializada a R$170 e agora comercializada a R$120. O ano passado foi bem melhor, principalmente, pelos preços dos herbicidas, adubo, fertilizante – conta.
Valores dos insumos
- Na pesquisa de Millani, os insumos da safra plantada em 2022 e colhida neste ano, custaram 150% a mais
- Os altos preços estão ligados ao anúncio que poderia faltar insumo, concomitante a intensificação da Guerra da Ucrânia
- Um defensivo agrícola custou no mínimo R$100, e neste ano está R$32
- O adubo chegou a R$187 e este ano está R$100
- O diesel chegou a custar R$8 por litro e hoje está R$5
Próximo plantio
Na leitura de Salerno, presidente da Cotrisel, o agricultor precisa de uma grande safra para se recuperar depois destas três estiagens. Junto a isto, melhores condições de crédito rural e clima propicio para o cultivo.
Para o agricultor Oldomar Calduro, o governo deve investir em um plano específico para que os agricultores acessem com maior facilidade linhas de crédito com os bancos.